Glossário (29)
Dímba ya – Mulheres que não podem ter filhos ou perdem os filhos com tenra idade. A tradição pede que se “entreguem” na mão de um espírito (a ser determinado pelo Marabout ou djambacós consoante a orientação religiosa da família da mulher). No entanto a entrega nesse “espírito” pode determinar que uma mulher muçulmana seja entregue na mão de um djambacós ou espírito animista e vice-versa. Estas mulheres adquirem uma liberdade de movimento e de expressão vocal e corporal para cantaram a sua “má sorte” ou vida “malgoss”. Costumam reunir-se em grupos e acompanhar demonstrações e celebrações tais como casamentos, festas, funerais, etc.
Djidius – Palavra crioula para definir os cantores ou músicos depositários e transmissores do saber, principalmente nas etnias Mandinga e Fula. Tradicionalmente são considerados mestres na arte de falar, filósofos e conselheiros dos seus senhores. Os djidius tinham um papel preponderante como conselheiros e músicos dos senhores da guerra durante as guerras entre os Malinké e Fulbé e entre estes e os povos animistas. O seu papel perdeu-se e muitos tornaram-se músicos itinerantes cantando e louvando para quem lhe pague ou alimente. Os djidius regem-se por regras de filiação e posicionamento social estrito, que ditam que a casta dos djidius não pode casar com membros de famílias guerreiras ou de líderes espirituais, etc.
Fanado – Cerimónia de iniciação masculina e feminina. Algumas etnias na Guiné-Bissau realizam o fanado pequeno (circuncisão e excisão) e o fanado grande (iniciação nos segredos comunais e aceitação do jovem como membro completo da comunidade com responsabilidades e regras específicas). A palavra Fanado tem as suas especificações em cada língua consoante se trate de fanado feminino ou masculino. Envolve um período de corte com o estado actual (posição do indivíduo na sociedade), período de afastamento (normalmente no mato onde se realiza a aprendizagem) e período de reintegração, ou seja o regresso à comunidade com um novo estatuto.
Omi garandi – Ancião, normalmente homem que pela sua idade é respeitado pela comunidade e a sua voz é ouvida nos assuntos comunitários e familiares. As decisões são tomadas no quadro de um conselho de omis garandis, estrutura sociopolítica responsável pela gestão das questões comunais nas aldeias de estrutura social dita horizontal (exemplo Balanta Kuhtoe e Berassa). Este conselho é composto pelos chefes de família de cada morança, mas deve ser liderada pelo ancião que representa a família fundadora da aldeia ou tabanca.
Irã – Designação em crioulo que cobre uma vasta área de designações que abrange desde “espíritos, deuses, seres invisíveis com poderes protectores”. Cada etnia tem designações específicas segundo se trate de um “irã” protector do indivíduo, da família, da comunidade, etc. Indivíduos podem estabelecer contratos directos com estes “espíritos” para proveito próprio, que implica normalmente uma retribuição estabelecida pelo espírito. No entanto os espíritos protectores dos antepassados e das famílias regem-se por outras regras.
Mindjer Garandi – Anciã, normalmente mulher que pela sua idade é respeitada pela comunidade e a sua voz é ouvida nos assuntos comunitários e familiares
Régulo – Chefe tradicional de tabanca ou aldeia. A denominação régulo foi adoptada e vulgarizada durante a época colonial para definir chefe de aldeia. No entanto, originalmente os regulados, assim como os “farinados” definem estruturas sociopolíticas e territoriais bastante extensas para as sociedades com estruturas sociais hierarquizadas e piramidais. Durante a época colonial este sistema de “regulados” foi igualmente imposto em comunidades e sociedades que não reconheciam este sistema mas sim um sistema de gestão comunal gerida pelos anciãos. Actualmente, os regulados mais conhecidos e ainda reconhecidos no país situam-se nas regiões do Leste e Sul, principalmente entre as populações e etnias muçulmanas. Os limites dos regulados não coincidem com as divisões administrativas e territoriais actuais da Guiné-Bissau.
Tabanca – aldeia em crioulo, liderada pelo seu chefe (régulo, chefe de tabanca, etc. dependendo das etnias). Normalmente o chefe da tabanca é descendente da linhagem fundadora da aldeia/tabanca. Uma tabanca é constituída por várias moranças, ou seja, um conjunto de casas pertencentes a uma família normalmente construídas ao redor da casa do líder ou ancião da família. Uma morança pode ser constituída pelo ancião e sua(s) esposa(s), seus filhos e sua(s) respectiva(s) esposa(s) e filho(s) e filha(s) que ainda não casaram.
Toca-tchur – Cerimónia realizada para celebrar a passagem para o mundo dos antepassados. Não confundir com o funeral, enterro. O Toca-tchur realiza-se normalmente entre quatro meses e um ano a seguir ao enterro propriamente dito, e a sua realização depende da capacidade financeira da família e da presença de todos os parentes importantes. São celebrações onde se vangloria os feitos e façanhas do defunto/a e se deseja uma boa passagem e estadia no mundo dos espíritos dos antepassados, assim como se pede a sua protecção para a família.
(29) Silva, Maria da Conceição das Neves, ob. cit.,
Deixe uma resposta