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Mondé, a Homenagem Fula ao Gado

24 Junho, 2016 - 10:45 Comentar isto

Mondé, a homenagem fula ao gado

A época das chuvas é uma época de renovação. Os campos e as bolanhas mostram-se em todo o seu esplendor, à espera de serem desbravados. É altura de reagrupar o gado disperso pelas matas e iniciar uma nova etapa na vida do pastor. Entre as crianças e os adolescentes o entusiasmo é perceptível pelo facto de poderem contar com um adicional e delicioso alimento para sua dieta, que é o leite de vaca, apesar de estarem cientes que se avizinham tempos difíceis, pois vêem-se confrontados com o ritual das pastagens do gado. As mulheres e as jovens adolescentes também não escapam ao ritual, passando a ter mais trabalho no seu dia-a-dia, que é ir ao curral de manhã cedo mugir as vacas.

Entre as 11h00 e o meio-dia, é altura de soltar o gado para a pastagem, cabendo aos adolescentes ou adultos de sexo masculino a tarefa de guardar os animais. A época de pastagem dura sensivelmente sete meses, até terminarem as colheitas do que foi lavrado e ser dado como findo todo o processo de armazenamento. Celebra-se então o mondé, em que se manifesta o orgulho de ser pastor. O mondé (Festa do Sal, na língua fula) acontece duas ou três vezes em cada época chuvosa e é o ponto alto dos festejos. Os pastores acreditam que o sal é uma componente essencial para a dieta do gado porque para além de o tornar mais resistente às várias doenças, é também um óptimo remédio contra carraças ou carrapatos.

Tudo começa na tarde anterior à festa propriamente dita. É todo um ambiente que se cria à volta do mondé e do gado da família. À tarde, os homens carregam três grandes cabaças e vão ao mato extrair a casca de uma árvore a que os Fulas chamam lalloi, cujo aroma é muito apreciado pelas vacas. O regresso à casa acontece depois do pôr do sol. É o momento das mulheres se juntarem à volta de três pilões para moerem o conteúdo das cabaças e assim facilitar a sua ingestão pelas vacas. O som dos pilões é acompanhado alternadamente de cânticos em coro e palmas que inevitavelmente convidam à dança. As letras exprimem alegria e orgulho:

“Mondeya ehehehDjango ko mondeya/Alah ya faróóó!!!”

(Amanhã é dia de mondé/ Não vamos à bolanha / Porque temos a festa de mondé).

São cânticos prórios do evento, que raras vezes se ouvem fora daquele ambiente, elogiando as vacas pelo seu leite, os seus donos e aqueles que cuidam do gado. A noite é longa, mas o sono é necessário porque o grande dia começa cedo na manhã seguinte. As actividades arrancam com o primeiro canto do galo. Já se pensou onde será o palco do acto central, com água em abundância e terra desbravada para se fazer os furos necessários e recolher a mistela de farinha com sal ensopada com água. É um trabalho duro porque o número de furos preparados no mesmo dia chegam a atingir os 30 ou mais, dependendo da quantidade de bovinos.

Quando tudo está pronto, o omi garandi veste-se de roupa de algodão branco e espera junto ao furo de recepção. Neste furo bem ornamentado e cujos ingredientes são um pouco diferentes dos restantes (segredo que o decano conhece), pretende-se que seja um boi o primeiro a beber o seu conteúdo, simbolizando a continuação de uma geração forte e saudável de vacas por nascer. Os animais são soltos do curral pelos jovens para uma corrida controlada rumo aos furos onde lhes espera uma ração preparada para a ocasião.

O barulho da corrida durante o percurso é ensurdecedor, mas o omi garandi consegue orientar os animais através de um toque regular e rítmico sobre uma cabaça. Tudo acaba bem quando o boi é o primeiro a beber. Se for uma vaca, esta será imediatamente sacrificada no local. A festa continua na mesma apesar de manchada pelo episódio do sacrifício do animal, que, de certa forma, se acredita que comprometerá a geração de vacas vindouras.

Esses rituais verificam-se cada vez menos e tendem a desaparecer, devido não só aos condicionalismos climatéricos como à falta de água, que afecta cada vez mais a zona leste e nordeste do país, mas também à migração dos jovens para as grandes cidades e ao seu desinteresse em dar continuidade à tradição.

Binta Baldé

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