Dançar a música
Bissau, 9 de Setembro de 2009. Cerca de 15 mil pessoas enchem as bancadas do Estádio 24 de Setembro à espera do início da cerimónia de empossamento do seu novo Presidente da República, Malam Bacai Sanhá. De repente, um dos convidados oficiais, trajando um fato preto e segurando uma bengala em forma de chave, abandona a tenda reservada aos convidados oficiais, dirige-se à pista de atletismo onde dá uns passos de dança imitando a estrela norte-americana Michael Jackson: o estádio reage como quando se marca um golo, com gritos, palmas e risos. “Dançar faz parte da minha maneira de ser”, explica Justino Delgado, o autor desta façanha. Não é por acaso que os combatriotas o apelidam de “Michael Jackson” ou “Juju” pelos seus dotes de dançarino.
Justino é um dos raros músicos guineenses que inclui a dança no seu repertório. Dos poucos músicos que dançam em palco, destacam-se ainda Maio Coopé e Dulce Neves. “Um artista, sobretudo um artista africano, não pode ficar parado sob pena do palco ficar monótono. Ele tem de se mexer, dançar e vibrar com o público”, justifica a embaixadora da música moderna guineense. Uma filosofia partilhada pelo conjunto Furkutunda, cujos cantores Luís, Nelson e Rakuia actuam com trajes tradicionais, multiplicando coreografias de diferentes etnias. “A dança dá mais vivacidade à música. Por outro lado, há sempre vibração na música africana. A terceira razão da aposta na dança prende-se com o facto de também querermos divulgar a cultura guineense no seu todo e não apenas a música”, explica Luís.
Alguns recorrem às dançarinas, sobretudo para a gravação de clips. mas num país onde a dança é a principal característica da música tradicional, podia-se esperar uma maior presença na música moderna. Segundo o cantor Sidó, uma maior presença da dança até podia constituir uma mais-valia, um pouco como acontece com os músicos da República Democrática do Congo (RDC). Para o ex-membro dos conjuntos Kapa Negra e Sabá Miniambá, “o sucesso do congolês Koffi Olomidé não se deve apenas à sua música. Também está ligado ao facto de o cantor dançar em palco. Isto é pouco frequente na música guineense; a dança está pouco presente nos palcos”. Para o cantor, a razão deve-se à definição recente do estilo musical moderno após anos de estagnação. “Hoje podemos tocar o gumbé facilmente apesar de uma corrente continuar a navegar entre o zouk, a meia batida, o cabo-love ou a tarrachinha. Agora é a dança. Enquanto artistas e músicos, cabe-nos a nós definir um estilo, um tipo de dança”.
O compositor Atchutchi acrescenta que a música guineense está numa fase de consolidação. Por outras palavras, as coisas não tardarão a mudar, nomeadamente com a nova geração, conforme explica a cantora Aminata: “A timidez no palco não paga. É preciso comunicar com o público, por isso decidi também dançar nos meus espectáculos”.
Djamila Gomes, com V.M.
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