No circuito da world music
Apesar do seu número não ser muito expressivo, os músicos guineenses estão bem presentes no circuito da world music. A gravação do álbum “Ar puro”, do Super Mama Djombo, na Islândia, em finais de 2007, graças a um mecena islandês, ilustra o interesse dos produtores e promotores da corrente designada por “músicas do mundo”.
É verdade que nenhum músico guineense faz parte dos catálogos das quatro grandes editoras mundiais (Sony BMG, Universal, Warner e EMI) mas o mesmo acontece com a maioria dos artistas africanos. Segundo a revista Jeune Afrique, que em Agosto de 2008 consagrou um dossier à nova música africana, os artistas do continente são sobretudo produzidos por editoras independentes que, apesar de terem meios limitados, permitem a criatividade. Uma situação que se aplica aos artistas guineenses.
O primeiro exemplo desta presença guineense no circuito world nos chega da editora Rough Guide num catálogo dedicado à música da África e do Médio Oriente. Nas dez páginas sobre a Guiné-Bissau, os autores falam dos géneros musicais existentes, destacam algumas figuras, incluem fotografias e até elaboram uma lista das dez melhores canções. Porém, a maior aposta na música guineense foi feita pela Putumayo, com sete artistas editados em três álbuns: são eles Eneida Marta, Dulce Neves, Manecas Costa, Bedinte e Zé Manel, na colecção dedicada à África, e Braima Galissá e Djanuno Dabó, numa compilação reunindo artistas de outros continentes e intitulada “Music from the chocolate lands” (“Música das terras do chocolate”).
Neste álbum, cuja particularidade é a associação de músicos oriundos de países africanos, europeus ou latino-americanos produtores de cacau ou de chocolate, os dois guineenses aparecem em agrupamentos musicais estrangeiros. O tocador de kora Braima Galissa actua no conjunto Tafletas, ao lado de dois suíços. Sobre o conjunto, pode-se ler no texto que acompanha o álbum que “Tafletas traz uma outra colaboração única, juntando músicos da Guiné-Bissau, país oeste-africano, e da Suíça, a terra onde foi inventado o chocolate”. O resultado é o tema “Yay balma”. Na mesma compilação, Djanuno Dabo é um dos membros do conjunto multicultural da indiana Susheela Raman, com a qual o guinense faz um dueto em “Sarasa”, adaptação de um tema religioso do século XIX. “Nessa canção ouvimos também a voz de Djanuno Dabo, um músico da Guiné-Bissau”, segundo uma passagem do texto que acompanha o álbum.
Por seu turno, Eneida Marta e Manecas Costa são destaque em duas compilações da Putumayo: na primeira, intitulada “An Afro-Portuguese Odyssey” e editada em 2002, estão acompanhados pelos seus compatriotas Dulce Neves, Bedinte e Zé Manel. Eneida canta “Na bu mons”, Manecas, interpreta “Ermons di terra”, Bidinte, “Considjo di garandis”, Dulce, “N’tchanha” e Zé Manel, “Bu fidjo femia”.
Eneida e Manecas fazem parte de outro trabalho da editora; a compilação “Accoustic Africa”, editada em 2006, ao lado de outros grandes nomes da música africana, nomeadamente Angélique Kidjo, do Benim, Lokua Kanza, da RDC, e Habib Koité, artista do Mali. Eneida interpreta “Mindjer mel doce”, segunda canção da compilação e extraída do seu álbum “Lôpé kai”. Já Manecas Costa contribuiu com o tema “Antónia”, tema do seu “Paraíso de Gumbé”.
Mas a Putumayo não é a única editora da world music com guineenses no seu catálogo. O músico Bedinte gravou pela Nubenegra Records enquanto que o label Africolor/Cobalt, especialista da música africana e das Caraíbas, lançou, em 1990, o álbum “Tchon Tchoma”, de Ramiro Naka. Quanto a Manecas Costa, a gravação de “Paraíso di Gumbé” pela “Late Junction”, da BBC, confirmou definitivamente o seu talento. Entre as editoras da world music que trabalharam com artistas guineenses, destacam-se Lusafrica, a editora que lançou a estrela cabo-verdiana Cesária Évora, que produziu “Camba Mar” de Maio Coopé e o Gumbézarte. Finalmente, os temas “Kambés” e “Ussak N’dja”, do álbum “Naton” do músico Tchando, fazem parte das compilações “Afrolusamerica” e “Big Noice”, lançadas pelas editoras alemã Tropical Music e americana RykoDisc, respectivamente.
V.M.
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