Tabato, a tabanca dos djidius
Os habitantes de Tabato são, na sua maioria, mandingas. Mas nem sempre foi assim nessa aldeia situada a 12 quilómetros de Bafatá, cidade do leste da Guiné-Bissau, onde Amílcar Cabral, um dos fundadores do PAIGC, nasceu a 12 de Setembro de 1924. “Quando chegaram, só havia Fulas”, lembra Tcherno Djabaté, descendente de Bununga Djabaté, um dos primeiros mandingas a pisar aquela zona. Na altura, o poderio e a ocupação fula estavam no seu auge. A implantação de novos mandingas aconteceria em 1870, na sequência da queda do Império do Kaabu, pela coligação dos exércitos dos estados teocráticos (islâmicos) fulas do Futa Djalon, de Macina e do Futa Toro. “Eles vinham de Kakandé, Kadé (região de Boké). Primeiro pararam em Koiada, Sintchan Ocko e Gabú, e deviam seguir para Geba, mas o régulo Mamadu Alfa recebeu os djidius e deu-lhes uma parte do território para se instalarem”, acrescenta. A sua fixação foi igualmente possibilitada pela convergência religiosa, com um papel preponderante dos Djamankas, djidius de Tabato com os quais os invasores fulas do Kaabu assinaram tratados.
Os djidius trouxeram com eles o balafon, o instrumento que lhes servia de ganha-pão. Tocavam e cantavam, enalteciam o interlocutor, evocando o seu passado, recordavam a história e em troca recebiam vacas, carneiros e cavalos. “Nos casamentos de outrora, os djidius acompanhavam os noivos até ao seu novo lar. No primeiro dia, o régulo dava-lhes uma vaca. No segundo dia, recebiam mais uma vaca. Hoje, contamos com as manifestações tradicionais mas as coisas mudaram tanto que somos obrigados a cultivar ou a ter algum gado para sobreviver. Os ministros nem arroz dão”, lamenta Tcherno.
Mas a tradição mantém-se em Tabato. O balafon continua a ser construído no local por artesãos bem identificados. Como outrora, uma cerimónia antecede este ofício em que o artesão solicita a autorização divina para fabricar este instrumento – leva em média três meses. Uma nova cerimónia é organizada no fim antes da entrega do balafon ao novo dono. Todos aqueles que nascem em Tabato aprendem a tocar. Uma casa foi propositadamente construída no centro da tabanca para acolher as aulas de Alcorão e de balafon mas também outros instrumentos como o djurdjunka, a kora e o djémbé, embora este instrumento não faça parte da herança cultural mandinga, segundo Mário Cissoko. Sinal de alguma evolução foi o aparecimento do Super Tamarimba, um conjunto local fundado por jovens e alguns adultos com o intuito de levar a música desta tabanca a outras paragens, associando-lhe ritmos exteriores. “É bom que os nossos filhos perpetuem a tradição apesar de sabermos que os filhos são chamados a evoluir. A introdução de instrumentos modernos não danificará a nossa música”, sublinha um dos descendentes da família Djabaté.
No começo dos anos 1990, o etnomusicólogo canadiano Sylvain Panneton fez um estudo sobre o balafon de Tabato, publicado na revista Soronda. Em sentido oposto, Umar, o irmão mais novo de Tcherno, viajou até o Canadá onde, durante nove meses, leccionou o balafon numa universidade de Montreal. Por seu turno, Tcherno actuou na China e na Coreia. Viagens que fazem lembrar as pisadas do seu ilustre antecessor Djali Ba Koli Djabaté, filho de Bunun Ka Djabaté, que participou na exposição colonial de Lisboa onde ganhou um prémio no balafon.
V.M.
Bubaxar diz
Olá eu dou bubacar djabate vivo em Portugal ja ha 16 anos tendo vocês de música sou de Guiné bißau sou de uma aldeia de frios djidus a minha aldeia chama se tabato um inorme abraço se para td vocês ai meus melhor conpromentos bubacar
VERA diz
Foi muito linda a sua apresentação a 16 de dez.2023 na festa dos Médicos Sem Fronteira, muitos PARABÉNS e desejo muito fazer-lhe um desafio.